Antes de explicar a doença em si, é preciso falar um pouco sobre o processo de desenvolvimento do feto para facilitar a compreensão dos pais.
Mamãe, você sabe como o bebê recebe seu sangue limpo e lhe devolve o sangue sujo, para que o limpe para ele? É simples. O seu coração bombeia sangue para todo o corpo. Durante a gestação, a placenta fará o papel de coletar sangue limpo para, através de uma veia, levá-lo ao bebê. O coraçãozinho do bebê se incumbirá de pressionar esse seu sangue, que agora circula dentro do feto. Dessa forma, após a circulação, esse sangue volta para a placenta da mamãe, onde será limpo e recomeçará esse fluxo.
Pois bem, mais uma informação importante: o sistema de circulação de sangue no feto não pode ser o mesmo que o sistema de circulação do sangue do bebê, após o nascimento, sabe por quê? Enquanto feto, o pulmão não exerce sua função de limpar o sangue, então, é normal que haja um desvio de cerca de 60% do sangue que iria para o pulmão em direção a outro vaso do organismo do feto, que é a artéria aorta. Esse desvio é feito através de uma estrutura do coração que é chamada de Canal Arterial.
Após o nascimento, é necessário que esse canal que desviava cerca de 60% do sangue do pulmão se feche, para que todo o sangue sujo do bebê possa, agora sim, circular por seu pulmão para ser limpo, ou melhor, oxigenado.
Quando ocorre a Persistência do Canal Arterial, o que temos é justamente a persistência desse canal após o nascimento. Em um bebê sem a doença, o fechamento deve ocorrer em torno de 12 a 15 horas de vida, e o fechamento permanente acontece entre 5 a 7 dias de vida, alcançando em alguns casos até o 21º dia de vida do bebê.
Quando o canal não se fecha após o terceiro mês de vida, em um coração estruturalmente normal, temos a persistência do canal arterial. Ou seja, esse canal desviará o sangue de seu fluxo ideal e gerará um aumento indesejado de fluxo para o pulmão da criança.
No bebê prematuro, em decorrência da imaturidade do tecido do canal, o fechamento pode ser retardado até o final do 1º ano de vida. Portanto, é preciso diferenciar entre prematuros e não prematuros.
A persistência do canal arterial corresponde entre 5% a 10% de todas as cardiopatias congênitas e, por isso, embora seja mais difícil de entender, é preciso ser explicada! A doença é mais comum no sexo feminino, em uma razão de 2 para 1.
Alguns fatores como prematuridade, infecção pelo vírus da rubéola durante a gravidez e uso de algumas medicações na gestação podem aumentar o risco desta patologia. Portanto, cuidado, mamãe!
A doença pode se manifestar isolada ou associada a outras malformações cardíacas, especialmente as que causam cianose ou roxidão. Seu diagnóstico é feito através do ecocardiograma.
A manifestação clínica depende do tamanho do canal arterial e da quantidade de sangue que desvia da circulação sistêmica para a circulação pulmonar, ocasionando um aumento de fluxo de sangue para o pulmão. Ou seja, quanto maior a abertura desse canal, maior será sua repercussão no bebê.
Quando o canal é pequeno, o caso em geral é benigno e não causa sintomas. Quando grande, os bebês se cansam muito para mamar e fazem inúmeras pausas, suam muito e têm dificuldades para ganhar peso. Podem apresentar quadros respiratórios frequentes, ou seja, apresentar chiado, resfriados e até pneumonias com frequência.
Algumas medicações como diuréticos, que eliminam o excesso de líquido do organismo, podem ajudar a controlar o quadro de insuficiência cardíaca do bebê até o momento adequado para realizarmos o fechamento desse canal arterial.
Esse procedimento deve ser indicado em todas as crianças e adultos que apresentarem sintomas decorrentes da sobrecarga de sangue nos pulmões e coração. Pode ser por via percutânea ou cirúrgica, a depender da idade, do peso e do tamanho do canal arterial.
Nos prematuros, é possível tentar o fechamento com uso de medicamentos. Se não for efetivo, o fechamento por cirurgia também é recomendado.